quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL- Cenas do 2º Dia

Caro amigo leitor, no segundo dia do FSM eu dividi meu tempo entre a UFRA e a UFPA, acompanhando um casal de amigos hospedados aqui em casa. Ele é José Valdi, músico, cantor, compositor e atual Secretário de Cultura de Conceição do Araguaia, e ela é a professora Neuza, sua esposa.
Começamos indo para a UFRA, pela Av. Tancredo Neves (antiga Perimetral), uma avenida de apenas duas pistas e sem acostamento, que enfrenta um fluxo intenso nesses dias de fórum . Cerca de 2 km antes topamos com um engarrafamento, já diante da Universidade outra dificuldade: lugar para estacionar. Um cartaz de papelão preso num poste dizia: Estacionamento R$ 3,00 a hora, e uma seta indicava a direção, mas passei direto: Tá maluco, nem no estacionamento do Shopping é esse preço! Neguinho está apelando.

CENAS DO FSM NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ-UFPA
Estou preparando um slideshow com mais imagens. Volte amanhã no fim do dia. OK?

Seguimos para a UFPA, onde aconteceriam diversos eventos de nosso interesse. Afora isso, queríamos ver como estavam as coisas por lá. A UFPA é uma das mais belas, senão a mais bela, universidade federal do Brasil. Não propriamente por sua arquitetura, mas por sua área, arborização e localização. Fica bem às margens do Guamá, rio de cor de caldo de cana que banha a cidade. Por todo campus haviam tendas e barracas com algum tipo de manifestação política, social, cultural ou tudo isso junto. Num grande palco, perto da Reitoria, apresentou-se um grupo de índios Assurini, depois alguém leu um manifesto, em inglês, enquanto o Sol castigava a platéia.
Cruzei com duas simpáticas e agradáveis jovens do Quênia, que chamavam a atenção por seus trajes típicos. E como estava decidido a registrar algumas cenas do FSM para este blog, achei que elas seriam um material culturalmente interessante. Elas falavam desembaraçadamente o inglês, e como my english is broken, apenas pedi licença para tirar uma foto e registrar seus nomes: Hindou e Naini Meriwas. Em segundos nos vimos cercados e os muitos passantes também queria um foto ao lado delas, e as jovens aquiesciam gentilmente. Fiquei observando de lado. A mim parecia que as pessoas posavam ao lado delas como posavam ao lado dos índios que transitavam pelo local: como se exibisse um troféu exótico, curioso, contrastante.
Sai dalí e perguntei a uma jovem que passava com um adesivo da CUT nas blusa: Você pode me dizer onde fica a exposição de fotos de Cuba? Ela me olhou assim meio a pedir desculpas e respondeu em francês. Como o meu francês é mais “broken” que o meu inglês, eu disse “Merci” e continuei a busca.
Na tenda em homenagem aos 50 anos da revolução cubana, além de uma exposição fotográfica dedicada a revolução, com fotos originais vinda de Cuba, havia uma palestra da senadora Marina Silva. Na entrada da grande tenda um grupo de palestinos distribuíam panfletos e cartazes pedindo uma pátria livre. É como disse Marina Silva: “Esse fórum é uma verdadeira pororoca de idéias.”
Quando já íamos para casa almoçar, cruzei com um duas jovens e ouvi o seguinte trecho da conversa: “Estou cagando para o país de onde ela veio. Chegou aqui tem que falar o português.” Hum! Também penso que não temos nenhuma obrigação de falar no idioma do turista estrangeiro. Ele é que, ao vir para cá, deve tentar se comunicar na minha língua, mas de forma alguma irei tratá-lo mal por isso.
Pela tarde, nosso destino foi a UFRA. O céu estava carregado de nuvens escuras e esperei que desabasse aquele toró, para amenizar o calor brabo que fazia, mas ela não veio. Ou melhor, veio somente quase às 19 horas, quando já estávamos chegando em casa.

CENAS DO FSM NA UNIVERSIDADE FEDERAL RUAL DA AMAZÔNIA-UFRA
Diante da entrada da UFRA o comércio informal explodiu quase instantaneamente, e do lado de dentro também. Havia de um tudo, como numa verdadeira feira. Muitos vendiam água mineral e cerveja, uns vendiam chapéu, camiseta, chaveiros, lanches, refeição em quentinhas, guaraná, guarda-chuva, bombons regionais, balas, chope de frutas (que nalguns lugares é sacolé), picolé e o escambau.
Num canto um senhor vendia mel de abelha, noutro uma mulher com um punhado de calcinhas pendurada nas mãos oferecia aos passantes. Pelas laterais da estrada que leva aos pavilhões e tendas das conferências, palestras, debates etc, dezenas de artesãos daqui e de outros estados expunham seus produtos. Centenas de “hippies” vendendo seus brincos, colares, pulseiras e outros adereços feitos de linha, metal, contas, arame e outros materiais. Em um grupo do Equador comprei um “regalo” para minha mulher.
Parei para fotografar uma pizzaria bem original. Numa barraca rústica, uma placa dizia vender Pizza em forno de lenha. O forno era bem artesanal, feito com telhas e barro colhido ali mesmo. Ainda se via tufos de capim, mas não cheguei a conferir a pizza, por motivos óbvios. E apenas para não esquecerem que estavam na Amazônia, uma placa alertava para ter cuidado com animais peçonhentos.
Propagandistas distribuíam folders de empresas. Uma equipe distribuía uma edição especial d’O Jornal Diário do Pará, enquanto militantes das mais diversas organizações distribuíam panfletos e material de manifestos. E gente chegando! Muita gente bonita, saudável e alegre. Em sua grande maioria eram jovens mochileiros. Para todo canto que se olhasse, e a todo instante, havia alguém fotografando alguém ou alguma coisa. Mas todos traziam largos sorrisos e olhares gulosos. Eu me sentia numa imensa festa policrômica, polifônica, poliétnica, mas composta por um único e só povo. Esse era o espírito que pairava sobre as águas amazônicas e sobre a gente daquele lugar.
Ouvi um rapaz dizer para uma jovem: “... o Festival de Woodstock”. Fiquei imaginando se ele se sentia como no famoso festival de 1969. Achei que de fato havia alguma similaridade, pois Woodstock congregou diversos estilos musicais e formas de livre expressão, reunindo milhares de jovens em torno de um movimento pacifista, mas contestador e carregado de uma forte critica social. Lá, como aqui, causou grande confusão no trânsito e agitou, social e econômicamente, as imediações onde se realizou.
Ali, na UFRA, havia centenas de barracas que, como cogumelos gigantes ou como enormes flores do campo, mudaram completamente a paisagem daquela Universidade. Um Hare Krishna solitário vendia seus incensos, e um grupo de gaiatos caricaturavam Obama e sua mulher, enquanto outros vestidos de mulher gozavam com os passantes. Mais adiante, numa barraquinha que vendia instrumentos de percussão, um grupo pegou alguns dos instrumentos e improvisou uma roda de samba, que depois virou capoeira. É, é assim nesse maravilhoso Brasil: colocamos o humor e a alegria em tudo que fazemos.
Um cara dava uma entrevista para uma reporte e um cinegrafista da Record (sei pelo símbolo no microfone). Ele falava de sua coleção: bicicletas. Parei para ouvir e conversar. Soube que era um fluminense de Itatiaia (RJ) que vivia em Belém e que tinha 62 bicicletas. Guardava desde seu primeiro velocípede, e a jóia da coleção era uma bicicleta com transmissão por eixo cardan, a única que já vi.
Um pequeno grupo de mulheres com uniformes de coletadores de lixo da prefeitura passou recolhendo o que os participantes atiravam ao chão. Percebi que, além das discussões, debates e enorme produção intelectual, todo aquele povo produzia também muito lixo. Encostada a um poste uma pequena jovem ostentava um cartaz onde se lia, em português, inglês e espanhol, que estava sem dinheiro e precisava de ajuda para ir para casa, pois havia sido assaltada. Do outro lado da estrada, alguns grafiteiros decoravam as paredes de compensado do banheiro comunal.
Faltando alguns minutos para as 18h o Sol ainda nos aquecia, e a ausência de vento tornava o calor maior e ajudava a minha transpiração. Resolvemos ir embora. E ainda estava chegando gente! O que se via ali era como uma eclosão de primavera, com tudo que ela traz de esperança, alegria, fecundidade, dádiva e benção. Como disse Che Guevara: “Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas nunca poderão deter a primavera”. .

8 comentários:

Martoni disse...

Oi Franz, que reportagem bonito. Num certo momento eu vi até o Rio Guama com o açaizal, umas garças e o sol já baixinho.

Martoni

Martoni disse...

Mas, eu acho que é exigir um pouco demais quando quer que todos que querem vistar Belém ou participar do Forum devem antes aprender a lingua portuguesa.

Abr. Martoni.

Rose Coelho disse...

Ola Professor, Tambem estive la, e que bom que este Forum ja esta dando seus frutos, fiquei sabendo que esta chegando a Belem um escritorio de Biodiesel. O Governo Federal autorizou o uso do Biodiesel, que bom o mercado vai gerar mais empregos e assim melhorar a economia do Brasil, reduzindo as importações do diesel de petróleo, além de contribuir para preservar o meio ambiente e promover a inclusão social de milhares de brasileiros. Nooossa! como é importante neste momento investir neste trabalho. Estive na UFRA com os Assurinins, fiz ate uma tatuagem. Muito importante registrar e divulgar esses momentos. Roseane.

PadreLeandro disse...

Gostei de visitar o seu blog e de seus comentários ou seu olhar sobre o FSM.Fiquei maravilhada de ter participado ativamente do Fórum e ter conhecido pessoas de outros países e que mesmo não sabendo falar Português e nem eu Inglês e nem Espanhol conseguimos nos comunicar.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
esteblogminharua disse...

To "Anonino"
Sorry, but I don't help you in this question.
Thanks for stopping by my blog

Anônimo disse...

What classes and where can be taken? If there are classes, would there be any in San Diego or Seattle?
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esteblogminharua disse...

Dear "Anonimo", What are U talking about? I don't understand what you want. Please, be more explicit.

No TOP BLOG 2011 ficamos entre os 100 melhores da categoria. Pode ser pouco para uns, mas para mim é motivo de orgulho e satisfação.
Sou muito grato a todos que passaram por essa rua que é meu blog e deram seu voto. Cord ad Cord Loquir Tum

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