Quando comecei a lecionar na Secretaria de Estado de Educação-SEDUC/PA, há cerca de 30 anos, era recém-casado e com as obrigações próprias dessa condição, então trabalhava em 3 turnos e em três escolas diferentes (entre públicas e privadas), como tantos outros colegas.
Por sorte que aqui em Belém os bairros são pequenos e, mesmo de ônibus, tudo é relativamente perto. Eu saía de casa 6 e pouco da madruga e retornava perto da hora do lobisomem. E como todo bom operário, ás vezes levava a marmita e comia aquela bóia fria...
Pior era na época de avaliação? Com tantas turmas e centenas de alunos, quando chegava a época das avaliações era tanta prova, tanto trabalho de aluno, tanto papel pra carregar, que de bóia-fria virava estivador. E lá se ia um final de semana ou mais para corrigir tanta prova e lançar notas na caderneta. Ás vezes, para adiantar, eu lia os trabalhos ou provas dentro do ônibus, enquanto ia de uma escola pra outra, mas quase sempre minha mulher ajudava...
Trabalhando muito e me alimentando mal ganhei uma pequena úlcera, e uma vez na escola quase quebrei o pé. Aí decidi que não valia a pena trabalhar tanto e ganhar um POUCO mais, pra depois gastar com remédios. Então, reduzi um pouco o rítmo e diminuí a carga horária para 240h mensais, mais tarde para 200h, e assim passei mais de uma década.
Em 1998 entrei para o NTE, e passei a trabalhar com a formação de professores no uso pedagógico de computadores em rede e das TIC na Educação. Voltei a me empolgar com a educação. Podia jurar que todos professores acorreriam ao NTE ansiosos para aprender como utilizar os novos recursos tecnológicos para melhorar suas aulas e promover um aprendizado mais eficiente de suas disciplinas. Acreditava que todos os professores brigariam para oferecer aos seus alunos uma aula mais interessante e dinâmica, mais produtiva, com os computadores das Salas de Informática Educativa (SIE) montada em suas escolas pelo Proinfo... mas o que ainda se vê é uma resistência absurda!
Agora trabalho 12 horas por dia (ás vezes mais) tentando convencer outros professores (e mesmo diretores) de que é seu dever trabalhar em parceria com o professor de SIE e de elaborar atividades de sua disciplina para serem executadas pelos alunos no computador. Tento mostrar que o computador, e todo potencial multimidiático que ele proporciona, é o instrumento que veio revolucionar a educação; que é a ferramenta capaz de promover a tão proclamada transdiciplinaridade; que pode promover a autonomia e ontonomia do indivíduo pelo empoderamento da informação e da construção de conhecimento que isso gera; que a informática na educação é isso..., que as TIC aquilo...; que o professor que não oportuniza o acesso de seus alunos a essas tecnologias ou que não busca melhorar suas aulas com tais recursos está
sacaneando seus alunos; que...
Voltei a passar do horário, a trazer serviço pra casa, a passar fim de semana pesquisando, preparando projetos, elaborando apostilas e, às vezes, tentando dar meu recado a outros professores em algumas postagens muito pouco lidas nesse blog...
Agora estou prestes a me aposentar. Não me sinto cansado de fazer o que faço, e o que é pior... eu gosto do que faço. Será que sou doido?
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