quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A INUTILIDADE DAS REGRAS GRAMATICAIS NA WEB

Lanço nesta postagem uma provocação: você é daqueles que prima pela escrita escorreita do Português? Eu sou (pelo menos tento. Rsss). Você é daqueles professores que exige que seus alunos escrevam corretamente? Eu sou. Você é daqueles que acha absurdo alguém com nível superior comunicar-se gramatica e ortograficamente errado no seu idioma? Eu também. Para finalizar, você acha que vale a pena exigir do estudante o cumprimento de tantas regras e normas no escrever, quando o que importa é se fazer entender? Eu começo a crer que não.
Agora, convido-o a ler os pequenos textos abaixo e, depois, refletir comigo sobre a seguinte questão: Escrever corretamente é besteira?

O nosso cérebro é doido !!!
De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea,
não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso,
a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê nida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Gsotu? Não é Sohw de bloa?


Agora, fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54 R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

Bem, muito provavelmente você já deve ter lido esses textos antes, posto que correm pela Web faz algum tempo. E também pode peceber que, apesar de subverterem completamente as regras da gramática normativa, foram lidos com relativa facilidade. Assim, refletindo sobre isso com minha mulher, chegamos a algumas conclusões que começaram a mudar certas concepções minhas quanto a nossa maneira de escrever corretamente, e que talvez devessem ser objetos de atenção dos estudiosos de plantão. Senão vejamos:

1 - Esses dois textos mostram que as regras gramaticais, principalmente as ortográficas, são uma grande besteira no contexto discursivo da comunicação escrita. Elas tornam a aprendizagem e o domínio da nossa língua escrita um trabalho cansativo, enfadonho e desinteressante;
2 - O poder criativo e interpretativo da mensagem independe da forma como as palavras foram escritas (ortografia), mas de conceitos pré-estabelecidos que são acionados no exato instante em que a imaginação se antecipa a razão e pressupõe a existência da palavra escrita onde ela não existe;
3 - A nossa nova ortografia é tão útil quanto um pinguim de geladeira, logo toda essa discussão a respeito das novas regras é uma inutilidade que só agrada aos teóricos da área, mais preocupados com o aspecto formal do que o funcional da língua nos gêneros textuais;
4 - A Academia, e muita gente intelectualizada e culta, dá mais valor as regras com as quais o discurso científico é descrito do que o conteúdo do mesmo;
5 - Essa "forma de ler" nos mostra que tendemos a tomar o reflexo pela imagem real, o semelhante pelo igual, aquilo que aparente ser pelo que É . Por conseguinte, nossa maneira de agir como ensinante e aprendente, como indivíduos sociais, como educadores, deve privilegiar também esses aspectos da 'realidade'. Ou seja, devemos estar cientes que aquilo que temos como real pode ser mera criação do cérebro.Mas isso já é outra história e papo para outras postagens.

Agora tomemos como outro exemplo a seguinte frase, escrita num diálogo via MSN: VC TBM FK BLZ, BB!
Se você também foi capaz de traduzir essa sequência de consoantes aparentemente sem sentido, é capaz de aprender a ler hebraico. Você sabia que nessa língua as vogais não são escritas, e por isso é considerada a língua sagrada?
Mas o fato é que escrever de forma abreviada é mais difícil que escrever por extenso. A habilidade para isso só é possível para aqueles que já dominam as estruturas da escrita normativa e da semântica, pois sabem quando e onde devem fazer as abreviações.
Agora o que você faria se numa prova seu aluno responde como se estivesse no MSN? Embora a resposta estivesse correta, seria certo lhe dar ZERO?
Como educador começo a refletir se o que interessa mais é a forma ou o conteúdo da mensagem. E quanto a qualidade da mensagem fico na dúvida se deve estar na forma, no conteúdo ou em ambas.
Não pense que estou condenando a educação formal da língua escrita. Ela é fundamental para que o indivíduo possa ser capaz de "ler" textos como esses acima e outros mais, principalmente agora com a revolução possibilitada pela comunicação mediada por computadores em rede. Entretanto, as cobranças e a ênfase que se dá a certos aspectos da comunicação baseada no texto impresso me parecem ganhar outras dimensões diante das novas formas de interação social e de comunicação via Web. Aliás, onde há comunicação há entendimento entre o emissor e o receptor, off curse! E isso é o que importa, não é?.
E você, o que acha?

11 comentários:

Unknown disse...

Oi, Franz!

Trabalho com língua portuguesa e literatura no ensino médio. Meus (minhas) alun@s são jovens da periferia... onde não chegam livros, jornais, revistas...
Por que estou falando isso?
Assim como aprendemos a falar ouvindo e falando... construindo nossas hipóteses sobre a gramática da língua falada...
Acredito que aprendemos a gramática da norma escrita "culta" lendo bons textos que circulam socialmente... e escrevendo! Não adianta nada ensinar a estrutura do texto dissertativo, por exemplo, se @ alun@ não ler textos de opinião... e assim vai...

Se @ alun@ tem "domínio" de diferentes variações da língua (e seus usos), saberá adequá-las às exigências dos diferentes contextos... como fazemos com a fala...
Então, provavelmente, se usar a mesma variante que usa no MSN, para responder uma prova, será uma escolha inadequada. Em linguística falamos em adequação e inadequação, não em erro...

Não tenho dúvidas de que ficar anos e anos dissecando a gramática da língua escrita culta (= à gramática do português falado em Portugal!), como muit@s colegas insistem, não faz de noss@s alun@s melhores autores(as) nem interlocutores!

E quem usa essa variante na vida real?

Abraços!

Anônimo disse...

Como não estamos iniciando do "zero", creio ser importante incorporar o conhecimento elaborado pela humanidade ao longo dos séculos, incluindo aí a linguagem formal, a norma culta. Como você bem argumentou.
Uma coisa é abreviar, inventar, inovar, etc. (Veja o trabalho dos poetas). Outra coisa é ser preguiçoso, imitar , "chutar", escamotear a comunicação.
Considero ainda a leitura fundamental na aquisição de vocabulário, interpretação e familiarização com a língua.
Não uso MSN e afins e gosto do discurso elaborado, sem que chegue ao formato artificial, intelectualizado, enfim, a um academicismo exacerbado, pois o mais importante é entender e ser entendido. Mas gosto dos dialetos regionais, na comunicação informal.
Fica a controvérsia, e vamos prá frente!

Anônimo disse...

Professor Franz,

Acho que inutilidade é um pouco demais. Um textos bem escrito, com as palavras escritas de forma correta, é mais agradável aos olhos. abreviaturas como: vc, tb, bjos, IMO, IMHO, que já estão consagradas e usadas para fluir o texto são sempre bem vindas. Mas um texto escrito só com abreviaturas é um suplício de ser lido.

Lembro quando fiz uma prova de português e acertei todas as questões (era uma prova objetiva), o professor me deu 9,5 porque disse que ninguém sabe tudo de português, então não havia como dar 10 pra ninguém! Um absurdo, por isso digo que se um aluno me responder com algum erro grotesco de português iria sublinhar o texto e explicar o correto, mas jamais tiraria pontos se o erro não estivesse conectado com o conteúdo.

Por isso ainda sou favorável à doutrina de buda: "A iluminação está no caminho do meio".

Rocio Rodi disse...

Franz,
Gostei muito de sua reflexão assemelha-se ao que PER-passo nessas trilhas pedagógicas. Você me fez lembrar de um texto muito interessante do Celso Antunes cujo professor de Geografia cheio de conflitos assentiu ao sistema, o trecho que destaco é esse:

Luizinho jamais saíra de sua cidade. Construiu sua imagem a partir das aulas ouvidas. Marcelo sentiu-se um gigante e, de repente, descobriu-se o próprio Piaget. Havia com suas palavras, construído uma imagem completa, correta e absoluta na mente de seu aluno. Mas, deu zero pela redação. É claro. Naquela escola não era permitido que se rabiscassem as folhas da prova. (...) Mas, não são todos os professores que se encontram treinados para ouvir linguagens diferentes da que a escola instituiu como única e universal.

Qual o estilo de sua linguagem? A dez minutos para acabar a prova ele desenhou a bela paisagem do Pantanal, nada escreveu. Fez detalhes que nenhum dos alunos foi capaz de descrever. Por quê?

O livro é: ANTUNES, Celso. Marinheiros e Professores. 6 ed., Petrópolis: Vozes, 2000, p. 72-73 (O Luizinho da segunda fila).

Esse tempo está a nos exigir uma retomada de discussão sobre o que se estabelece como padrão, os dialetos, as subjetividades, os critérios, as transposições, as ressignifIcações e a PRODUÇÃO DE SENTIDOS.

Agradeço a possibilidade de continuar navegando...

Maria do Rocio

Anônimo disse...

A minha colega de área, a Suely, usou a palavra chave para a questão que você instigou, Franz: ADEQUAÇÃO, porque as diversas situações comunicativas devem ser presididas pelo ajustamento aos propósitos empreendidos. No MSN um jovem escreve de um jeito, mas, na horinha da prova na escola ou no vestibular a direção é outra, porque ele precisa demostrar que sabe usar os recursos de textos e exibe seu conhecimento com as informações de morfossintaxe, se for o caso.


Até você, meu colega blogueiro, ajusta com o devido cuidado a sua escrita aos propósitos que tem aqui na sua página, afinal, entre os seus leitores estamos nós, seus colegas professores, inclusive de língua portuguesa. A redação de monografias, dissertações e outros textos de responsabilidade inconteste devem ser escritos, em consonância aos ditames da adequação linguística, caso contrário, sofrerão restrições acadêmicas. Os vários níveis da linguagem estão ai para que estabeleçamos nexos comunicativos formidáveis, não é mesmo?

Gostei bastante do tema da postagem; apenas não gostei do título, porque ele induz ao descrédito às orientações equilibradas dos professores compromissados com as lições de escrita eficiente, inclusive para a vida em geral.

Um abraço.

Doralice Araújo, professora de Redação, em Curitiba

www.gazetadopovo.com.br/blog/namira

esteblogminharua disse...

Caros colegas que colaboraram com seus comentarios nesta postagem, muito obrigado, mesmo!
Evidentemente, concordo com o que cada um disse, mas... (e sempre tem um MAS, não é?- Rssss...), a regra fundamental da comunicação é que a mensagem seja apreendida pelo receptor, e na Web é essa a regra de ouro.

Anônimo disse...

Oi Franz
A respeito do seu próprio comentário neste post, e apenas para atiçar a reflexão, repito parte do livro que li, coincidentemente, em janeiro:
"Existe um mito ingênuo de que a linguagem humana tem a finalidade de 'comunicar', de 'transmitir ideias' - mito que as modernas correntes de linguística, como a sociologia da linguagem e a análise do discurso, vêm tratando de demolir, provando que a linguagem é muitas vezes um poderoso instrumento de ocultação da verdade, de manipulação do outro, de intimidação, de opressão, de emudecimento."
Palavras do professor Marcos Bagno in Preconceito Linguístico - Ed Loyola.
Se há uma relação de poder entre os modos falantes, também não haveria naquelas formas de ensinar a escrita? E nas exigências quantos às formas de escrever?
Como professora de classes populares (e excluídos dos bens culturais) as questões da linguagem sempre me tiram o sono...

esteblogminharua disse...

Oi, Anonima, obriado pela provocação saudável. arpecio sobremaneira suas observações. Mas minha postagem nao trata da semântica. E quanto a pesquisa segundo a qual a linguagem humana serve para a ocultação da verdade eu não tenho dúvidas. Porém, e sinceramnte, acho que dizer que é "um mito ingênuo de que a linguagem humana tem a finalidade de 'comunicar', de 'transmitir ideias'", uma coisa meio estúpida de se dizer. Me parece cuspir para cima, afinal o pesquisador está usando a linguagem humana para transmitir uma ideia sua, comunicar uma descoberta, ainda que seja uma bela tolice travestida de "ciencia". Até pq, esconder ou alterar a verdade é uma forma de se comunicar.

Unknown disse...

apoiado porfessor Franz
sou graduando de Ciencias Sociais da UFPA e sempre tenho problemas com as normas agora mais ainda q eu nem sei por onde vai essa nova ortografia . . .
de fato o importante é o conteudo.
heheh
abraços

Ester disse...

Olá!!


Passei para
lembrar-lhe que,

Segunda-feira dia 09
é dia de Blogagem Coletiva!

Sucesso para todos nós!


Abs,

NTE disse...

Olá, colegas... e para apimentar ainda mais o debate provocativo, passem no EducaRede e dêem uma olhada na reportagem feita pelo José Alves sobre o assunto em questão no endereço http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=378.

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