terça-feira, 13 de julho de 2010

História da Matemática e a Numerologia - Parte II

Caro leitor, faz uma semana que iniciei a postagem com esse tema (Clique AQUI para ver). Dei um tempo esperando que esse assunto despertasse o interesse de alguns professores (de Matemática ou outra disciplina) e esperava receber alguma contribuição em forma de sugestões ou perguntas. Como nada veio, vou prosseguir no meu propósito de apresentar a Numerologia como auxiliar nas aulas de Matemática..............................................

História da Matemática e a Numerologia 

Assim como é em cima é em baixo

Eu costumava dizer aos meus alunos que a contagem apareceu antes da escrita, e também que acreditava que o homem aprendeu a escrever para poder registrar seus conhecimentos matemáticos. Contudo, afirma Ifrah, historicamente é a linguagem aritmética que, sem dúvida nenhuma, a humanidade teve mais dificuldade para assimilar (1997, p.12). O fato é que, por séculos, o homem observou a harmonia presente no Universo, buscando entender e interpretar os fenômenos que contemplava e relacioná-los com o que acontecia aqui embaixo.  

Essas observações desenvolveram seu natural instinto geométrico (2002), e com ele a percepção da existência de  uma, também natural, ordenação geométrica presente na criação. E isso pode ter disparado a matriz geométrica sobre a qual se ergueu a nossa civilização. A idéia de que a Matemática relaciona o macrocosmos e o microcosmos tem acompanhado o homem desde então, encerra os princípios evolutivos da humanidade e estabeleceu as bases sobre as quais se assenta(ra)m as civilizações. 

De fato, segundo Kepler (2002), tudo no Universo está associado à Geometria, consequentemente aos números. Porém, considerando o Universo a mais perfeita criação de Deus e a Geometria a ferramenta capaz de traduzí-lo, era natural que os antigos sábios, detentores desses conhecimentos, tratassem  essa ciência como sagrada (há, inclusive, várias pesquisas e publicações sobre a antiga Geometria Sagrada ou Divina Geometria). Eis porque seus ensinamentos  eram transmitidos secretamente apenas aos que poderiam apreciar sua beleza e compreender seus mistérios, ou seja, aos iniciados. Parece que, infelizmente, esse conceito excludente perdura até hoje, tanto entre pais quanto entre alunos e professores. 

Entretanto, sendo a Matemática um conjunto complexo de conhecimentos abstratos e formais que exige uma lógica rígida entre as relações estabelecidas e a estabelecer, parece natural que seus ensinamentos sejam dados aos que estão no estágio de desenvolvimento cognitivo adequado (Piaget). Por outro lado, apresentar os números como instrumentos preciosos e precisos como um bisturi a laser, faz parecer que somente um operador excepcionalmente habilitado pode operá-los. E isso pode contribuir para dificultar seu aprendizado. 

Como sabemos, parte significativa do trabalho pedagógico é despertar o interesse do aluno para um dado assunto e estabelecer conexões entre o que ele já sabe e o que deve aprender. Contudo, se tratando do ensino da Matemática, representar o conhecimento sempre foi um grande problema; por exemplo, usar os blocos de Dienes ou Material Dourado não garante que o aluno vá aprender o sistema de numeração decimal ou frações. 

No caso da Matemática, talvez, aprendendo a desvelar a enorme beleza oculta nalguns símbolos numéricos e geométricos; a criar relações entre esses símbolos, a natureza e o homem, e descobrindo que além de seu valor prático os números possuem finalidades muito peculiares, o professor pode explorar novas vertentes didáticas para tratar temas como a História dos Números, Noções de Número, Sistema de Numeração etc, e construir novas relações  entre a disciplina e seus alunos. 

Em 2003, conversando com Iran Abreu Mendes, um velho amigo Dr. em Educação Matemática e professor do Dep. de Matemática da UFRN, disse-lhe que o professor de Matemática deveria conhecer Numerologia. Não aquela usada como arte divinatória, que é o seu lado mais conhecido e para o qual a ciência torce o nariz. Propunha uma numerologia que permitisse ao aluno compreender que os números são muito mais que símbolos que usamos para representar quantidades e realizar operações. 

Iran não somente também já tinha esse olhar desperto como  já pretendia oferecer aos professores de Matemática elementos que possibilitassem alargar sua compreensão acerca dos números e sua simbologia. Assim, em 2005 publica "Números: o simbólico e o racional na história" (Natal. Ed. Flecha do Tempo, 2005), uma obra acadêmica modesta na forma, mas que abre caminho para a propositura de um estudo sobre Numerologia á luz da Educação Matemática. É uma leitura que recomendo entusiasticamente. 

Outra leitura excelente, e que também ajuda a construir uma ponte entre a tradição simbólica dos números e a Educação Matemática, são os trabalhos da pesquisadora lusitana Tereza Vergani, com quem tive o prazer de conversar há alguns anos. Aliás, um dos seus livros, o "O Zero e os Infinitos", foi o ponto de partida para  o artigo  "O Medo do Vazio: um olhar sobre a evolução do conceito de Zero", que apresentei durante o mestrado, e que está disponível para download na barra lateral deste blog, com novo título: "A Mística Origem do Zero" (se preferir clique AQUI para baixar)
Referências
* Abreu. Iran. Números: o simbólico e o racional na história. Natal, Ed.Flecha do Tempo, 2005.
* Ifrah, Georges. História Universal dos Números: a inteligência dos Homens contada pelos números e pelo cálculo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.
*Ochmann, Horst. O instinto Geométrico: o processo astrológico a partir de Kepler. Porto Alegre, Sulinas, 2002.  
Leia a postagem anterior AQUI
Continua numa próxima postagem

2 comentários:

Adinalzir disse...

Caro Franz

Olha eu aqui novamente, navegando da História para os números...rsrs.

Gostaria de citar aqui um livro que me marcou até hoje... "O Homem que calculava", de Malba Tahan, que apresenta de forma romanceada problemas, quebra-cabeças e curiosidades da Matemática. Em certa passagem narra, inclusive, uma das lendas da origem do jogo de xadrez e alguns costumes da cultura islâmica.

Considerando os efeitos da aplicação da Matemática no meio social em que vivemos; temos que concordar que ela é tão essencial quanto todas as coisas que mais precisamos para sobreviver. A exemplo do oxigênio, da água, da nossa alimentação, da nossa afetividade, etc.

Poderia citar aqui uma lista infinita de provas substanciais da presença da Matemática, mas nem é preciso.

Acho até que o mundo seria mais pacífico e as pessoas também mais pacíficas, se percebessem a importância da Matemática em suas vidas, desde o nascimento e mesmo antes do próprio nascimento; e quem sabe até depois da própria morte.

Portanto acredite, a Matemática está, dentro e em volta de todos nós. O problema é que muitos não são capazes de enxergar.

Um forte abraço, matematicamente grandioso e abençoado! :-)

esteblogminharua disse...

Amigo Adinalzir, vc. sempre me honrando com sua visita, afinal Matemática e Histórica caminhan juntas desde sempre.

O livro "O Homem qe Calculava" li-o ainda no meu segundo ano ginasial, e muito me impressionou. E o Prof. Júlio de Melo e Souza, ou Malba Tahan, era um grande educador,um ícone da Educação Matemática.

Um abraço amazônico com meu Muito obrigado paraônico!
Franz

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