segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ariano Suassuna na feira do Livro - 4º Dia

Noite de segunda-feira, quarto dia da XII Feira Pan Amazônica do Livro. Seria uma noite de segundo como outra qualquer se não fosse a presença do grande escritor paraibano Ariano Suassuna, talvez o maior atrativo do evento, a considerar o número de pessoas que lotavam o amplo auditório. Para mim era a segunda vez que assistia a uma palestra do mestre. A primeira foi neste mesmo local, na edição anterior da Feira.
Quando Ariano Suassuna entrou no recinto, foi aplaudido estrondosamente, e agradeceu agitando os braços, como um campeão das olímpiadas faria. E abraçando a si mesmo, como o artista consagrado que é, dizia que estava abraçando a todos. O público, sentindo-se abraçado, agradeceu com mais aplausos.
Ariano tem compromisso com a diversidade cultural e com a cultura popular. É, de longe, o maior defensor da cultura brasileira e nordestina, em particular. Sua voz, personalissimamente rouca e carregada do sotaque pernambucano, era facilmente ouvida num auditório silente e respeitoso. Com a naturalidade e autoridade de quem foi professor da Universidade Federal de Pernambuco por 33 anos, fez sua aula-espetáculo durante duas horas. E teríamos ficado por mais duas, ou quatro, se ele quisesse ou pudesse.
Para muitos como eu, que o admiravam pelos livros e adaptações destes para o cinema e televisão, compartilhar do mesmo espaço e tempo, e ouvir de viva voz seus causos, suas lições, é um privilégio, uma honra. Foi isso que senti quando, ao final fui levar-lhe um livro para autografar e na minha frente havia uma mãe com um garoto que devia ter uns 8 anos. A mãe trazia uma máquina fotográfica nas mãos e o pequeno trazia a programação do dia. Quando ela foi informada que Ariano só autografaria livros, pediu que pelo menos a deixasse tirar uma foto. O velho escritor abraçou a criança e deu-lhe beijo na cabeça. A mãe feliz e, provavelmente, orgulhosa, registrou para sempre esse instante.
Observando a cena, fiquei imaginando sua satisfação, satisfação de mãe que cuida do filho e que está segura que lhe dá o melhor que pode. E lamentei por meus alunos cujos pais nunca oportunizaram esse contato com a boa música, a boa arte, a boa literatura. Lamentei por todas as crianças e jovens que se embebedam dessa cultura de má qualidade, que a mídia derrama aos borbotões.
Então me lembrei de uma frase que Ariano quase ao final da palestra: "O povo gosta de arte boa, mas não tem acesso. Não estão deixando o jovem brasileiro ter contato com o filé, só dão o osso". Ele se referia a uma frase de Capiba, célebre compositor de frevos, que dizia "só dão osso pro cachorro" e o coitado do animal rói por não ter opção, mas experimentem dar filé! Esse garoto levado pela mão da mãe teve contato com o filé.

EDUCAÇÃO E BOLSA FAMILIA

Sobre Educação, disse que este não era o maior problema do Brasil. “O maior problema do Brasi - afirmou - é a miséria! Até uns anos atrás o percentual de brasileiros abaixo da linha da pobreza era 34 vírgula alguma coisa por cento. Com o Bolsa Família baixou para 18%. E ainda tem gente que fala mal do Bolsa Família!”- arrematou. E o auditório aplaudia praticamente a cada parágrafo. "A educação está em segundo plano. Em primeiro está a fome. Não adianta ter os melhores professores do mundo se o aluno não come”.
Também disse que estava muito preocupado com as histórias sobre a internacionalização da Amazônia: “O Brasil não pode perder a Amazônia”, disse para aplausos calorosos da platéia. Afirmou que alguns até podem chamá-lo de “arcaico-nacionalista-estreito” que ele não se incomoda, "porque meu negócio é defender o Brasil e sua cultura. Eu não tenho poder político, nem econômico, mas tenho uma língua afiada desgraçada!” (Risos)
Para ilustrar que estava sempre do lado do povo, foi buscar em seu “O auto da compadecida” o exemplo de João Grilo e Xicó. Mas alertou: “João Grilo é astucioso. Eu não tenho astúcia nenhuma. Eu me identifico mais com o Xicó, com aquelas mentiras dele. Eu sou um mentiroso!” O povo ria, entendendo muito bem que essa era sua maneira de dizer que ela era um contador de histórias.

4 comentários:

Roseli Venancio Pedroso disse...

Franz, parabéns! Li toda a sua narrativa do vem sendo a feira do livro e deu até vontade de estar aí. Assistir a palestra do Suassuna então, deve ser muito bom.
Gostei de passear por aqui.
Bjs

Claudia disse...

Pena... não consegui pegar a programação ainda... perdi o Mestre!
Ainda não tinha registrado: parabéns pelo blog!

Claudia disse...

Perdi o Mestre!
Ainda não tinha registrado: parabéns pelo blog. Linkei no meu.

Cybele Meyer disse...

Franz, estou realmente emocionada! Ariano sempre me emociona. Infelizmente nunca tive o privilégio de respirar o mesmo ar que ele. Estou sempre seguindo-o, porém nunca pessoalmente.
Que prêmio ter podido tirar fotos ao lado dele, ter um autógrafo dele, e saber que agora ele sabe quem é você.
Daria tudo para poder ter estado junto de todos vocês, e agradeço por você compartilhar este momento mágico conosco.
Parabéns!
beijinhos

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