sexta-feira, 7 de março de 2008

Computadores na Educação e as bactérias resistentes

Hoje li, no site do MEC/SEED a seguinte notícia: “O Ministério da Educação dará início, a partir de abril, a um amplo programa de formação de professores e gestores da rede pública de ensino para utilização de tecnologias da informação em sala de aula. Com base na demanda já sinalizada pelos estados, a meta do Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (Proinfo Integrado) é atingir 100 mil professores e gestores somente este ano. (...) Segundo o secretário de Educação a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky, o programa integra um conjunto de ações voltadas para a dinamização da sala de aula. “Para garantir essa melhoria, é necessário ir além da distribuição de laboratórios de informática, oferecendo cursos aos professores e também conteúdo pedagógico adequado”, explica.” Excelente! Tudo que vier para melhorar a educação pública neste país deve ser comemorado com fogos e festa, mesmo que sejam continuações. Porém, não basta distribuir laboratórios e computadores pelas escolas, ofertar conteúdos pedagógicos e cursos de formação para professores. Se fosse assim, nestes 10 anos de ProInfo e quase 20 de informática aplicada à educação pública nacional (veja-se o Projeto Educom e Proninfe, de 1989) já deveríamos vislumbrar alguma melhoria no desempenho dos alunos e professores. Como multiplicador do ProInfo a mais de 10 anos e atuando no Núcleo de Informática Educativa-NTE de Belém-PA, tenho participado de diversos cursos de formação, desenvolvido pesquisas e projetos que visam integrar os computadores a práxis pedagógica dos professores, e posso garantir: há algo nesse processo que o Secretário Bielschowsky esqueceu de mencionar ou que desconhece. Há algo errado ou faltando para “garantir essa melhoria” que ele afirma, mas... O QUE?! Antes de prosseguir, caro leitor, gostaria que refletisse um pouco sobre essa pergunta e tentasse respondê-la. E, para ajudar na sua reflexão, vou apresentar as minhas, tomando por exemplo o ProInfo no estado do Pará, pois desconheço a situação em outros estados, porém não parece estar muito diferente da nossa. O Pará é um dos pioneiros em informática na educação, tendo iniciado em 1989. Em 1997 formou-se a primeira turma de professores com especialização em Informática Educativa (multiplicadores) do ProInfo e implantou-se 9 NTE no estado (sendo 2 na capital, um da esfera estadual e outro da municipal, conhecido por NIED). O NTE cuida de desenvolver pesquisas, formação, acompanhamento e assessoramento pedagógico aos professores lotados nas salas de informática (ou LIED) das várias escolas estaduais. Somente para o NTE de Belém cabem, atualmente, cerca de 110 escolas com laboratórios (do ProInfo, Alvorada e Promed), porém apenas 38 desses laboratórios possuem professores lotados, totalizando quase 80 professores (em todo o estado temos cerca de 180 professores lotados em LIED). Por outro lado, a 5ª fase do ProInfo entregou computadores que, em muitos casos, permanecem encaixotados a mais de um ano! Possivelmente perderam a garantia. E os laboratórios que estão montados permanecem fechados por falta de professores. Em outras escolas temos diversos problemas que impedem a ação pedagógica nos laboratórios de Informática, a saber: roubos de computadores (em alguns casos TODOS os equipamentos foram roubados), roubo da fiação externa (cabos, rede elétrica e telefônica), dificuldades com a rede elétrica, máquinas sucateadas, diversidade de sistemas operacionais (Win 98, XP e Linux num mesmo espaço), resistência de alguns professores ao uso das TIC em sua prática educativa (em minha dissertação trato disso) etc. Em relação aos cursos de Formação de Professores para lidar com a Informática, em 2003 o NTE de Belém realizou dois (02) cursos e outras ações menores, e em 2007 realizou seis (06) cursos, atendendo cerca de 300 professores. Note-se que há um hiato entre 2003 e 2007. Isso se deu por conta da política implantada nestes anos, que obrigou os professores lotados nos LIED e nos NTE a retornarem às salas de aula (como se o laboratório de informática da escola não fossem uma sala de aula; diferente da sala tradicional mas salas de aula). Essa visão política vesga ou caolha trouxe muitos prejuízos, os quais até hoje sentimos. Mas como disse um amigo multiplicador: “Somos bactérias resistentes”. E precisamos ser se quisermos que as TIC promovam melhorias na educação pública no Brasil. Agora, retomando a pergunta acima: o que falta? o que está errado? Você já tem sua resposta? Eu gostaria de conhecê-la. Poderia me dizer?

4 comentários:

Suzana Gutierrez disse...

OI Franz

Desde ontem que as coincidências andam me seguindo na rede. Escrevi uma mensagem para a lista Edublogosfera falando sobre a "presença" na rede dos professores.
Questionava uma coisa que observei atuando em cursos de especialização em Info Educativa: tão logo termina a fomação, o professor some da rede.

As mensagens da lista você pode ler aqui:
http://groups.google.com/group/edublogosfera/topics
E se quiser colaborar com a conversa, te inscreve na lista.

Mas, continuando... Hoje me deparo com a tua mensagem em outra lista e venho aqui conversar.
O que tenho observado e não é uma observação sistematizada, é apenas ocasional, é que muitos NTEs acabam se fechando neles mesmos e multiplicando apenas o que aprenderam na formação (e olhe lá).
O NTE de Porto Alegre, por exemplo, nem página tem.
Isso significa não integrar a rede.

Penso que existem falhas na formação que levam o professor a entender a internet como uma ferramenta, que se pega usa e guarda e não como uma dimensão dos nossos espaços de vida.

abraço!

Suzana

Lilian disse...

Franz,
acho perfeitas as tuas colocações. sempre me pergunto sobre a falta de uma avaliação mais global a ser feita sobre os resultados das formações, dado tempo tempo já passado do início do proinfo. Em que situação encontram-se os NTEs? Que professores formados continuam atuando? onde? que fizeram? que condições tiveram para aplicar o que aprenderam?
No ano passado andei reunindo material sobre os NTEs, e realmente há poucos que se fazem presentes na rede (para usar a expressão da Suzana), vários dos quais somente com páginas há muito desatualizadas .
Será que a Seed não possui nenhuma diretriz de avaliação sistemática?
Fica difícil assim orientar qualquer novo investimento.
abço
Lilian

Elis Zampieri disse...

Olá Franz!
Na cidade onde moro no Estado de Santa Catarina parece que o caos é ainda maior. Embora haja uma página do NTE a última postagem foi em abril de 2007, quase um ano. Mas isso é pouco...Não tenho conhecimento de nenhuma escola que tenha recebido curso, ou orientações sobre isso. Concordo quando dizes que não existem laboratórios de informática, muito menos educacional, são apenas um amontoado de computadores e professores mal preparados que usam sabe-se lá de que forma essa tecnologias. Coisas que realmente não dá pra entender...

Wilma Falcão disse...

Olá Franz, somos as bactérias resistentes do NIED e precisamos sim é de apoio não só deste núcleo, mas da prória escola que trabalhamos, pois a maioria dos professores ainda veêm a sala de informática como um lazer e não um novo meio de aprendizagem, infelizmente. Temos na escola Data Show, que nem sempre é utilizado, computadores defasados, sem antivírus e outros problemas que tentamos solucionar, mas assim mesmo estamos na luta, fazendo projetos, nos reciclando e resistindo. Vi ná pagina do MEC que este ano virão novos computadores para as escolas de ensino fundamental e que o acesso a INTERNET será via satélite, então, o problema de fiação, rede, etc, será solucionada. Torçamos prá isto chegar logo aqui. Beijos!

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