2008/12/19 Luis Cavalcante escreveu-me:
Formar professoras(es) para utilizar pacotes de escritório como editores de textos, programas de apresentação, planilhas ou aplicativos relacionados a programação ou a computação gráfica parece não fazer mais sentido, quando cada vez mais encontramos novas ferramentas com imensas possibilidades de uso educacional na internet.
Caro amigo, você está certíssimo nessa análise e conclusão: chegamos naquilo que Capra denomina "Ponto de Mutação", o momento de transição entre paradigmas, o fim de ciclo e o início de outro que se impõe. Antes do velho paradigma desaparecer surge outro, e num mesmo instante coexistem os dois, criando conflito. E é exatamente isso que marca o ponto de mudanças, a mutação entre um estágio e outro. Na Informática aplicada a educação estamos vivenciando essa mudança.
Eu já disse noutras vezes, em outras palestras e mesmo no meu blog, que em se tratando de comunicação e transmissão de informações, ja' tivemos a Era da Oralidade, quando a informação era transmitida somente de boca à orelha. Era a modalidade one-to-one. Nessa era usáva-se apenas 1 dos sentidos, a audição. Depois veio a Era da Leitura/Escrita, quando a mensagem era transmitida por sinais gráficos impressos em mídia concreta (pedra, argila, papiro, pergaminho, tecido, papel), e também usávamos apenas 1 dos sentidos, qual seja, a visão. A sociedade de então era dominada por essas formas de comunicação unidirecional. E, evidentemente, a escola se fundamentava nelas, cada uma ao seu tempo, naturalmente.
Depois veio a Era do Som, com dois momentos: o primeiro quando a mensagem era transmitida a longas distâncias e por meio da eletricidade (telégrafo e telefone), e o segundo quando surge a mídia eletrônica, na figura da radiodifusão. Essa era pode ser sintetizada na expressão "vozes no céu", do escritor Arthur C. Clarke. Novamente continuamos com a predominância de apenas 1 dos sentidos.
Com o cinema e a televisão entramos na Era do Vídeo, e a informação tem um suporte mais amplo e de potencialidades quase ilimitadas, porque passamos a empregar dois sentidos, onde um praticamente não predomina sobre o outro, mas se ajustam, se casam para formar um único. Assim, som e imagem se unem pela primeira vez numa única plataforma, para criar múltiplas interpretações e subjetividades. Seu impacto na política, na economia e na cultura de massas é praticamente incalculável.
Até então tínhamos duas categorias de indivíduos: os produtores de informação e os consumidores dela; os que emitiam a mensagem e os que recebiam; os que apresentavam e os que assistiam etc. Vivia-se a modalidade one-to-many. Esse modelo tb acontecia no chão da escola.
Mas eis que surge a Era Digital, e a informação encontrou seu mais perfeito meio de transmissão e propagação. Agora o indivíduo emprega três de seus cinco sentidos: a visão, a audição e o tato. Tá certo que o sentido do tato é o mais limitado dos três, mas já existem softwares que conseguem transmitir informações para o usuário por meio de vibrações no controle em suas mãos. E já há estudos para que o computador possa reproduzir cheiros quando mostrar uma determinada imagem.
Com as ferramentas de interação e de criação de comunidades virtuais, a nova mídia permite que todos se tornem produtores, autores e/ou co-autores de conhecimento. Com isso ela acrescenta uma dimensão poderosa ao tradicional processo pedagógico: fez surgir o aluno autor, distribuidor e compartilhador de conhecimentos. Nesse novo paradigma, a palavra de passe é “cooperação”. A nova mídia, da sociedade pós-moderna, refaz a força da cooperação e da solidariedade entre indivíduos, antes abandonada ou relegada a um plano inferior na era anterior. E não importam as distâncias geográficas, as diferenças e anacronismos culturais; o que importa é que os indivíduos agora se juntam em comunidades segundo seus propósitos e interesses. Estamos agora na modalidade many-to-many (essas terminologias encontrei no livro “Cultura da Interface - Como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar”, de Steven Johnson.Zahar. 2001).
É claro que diante da nova mídia e da falta de domínio que temos dela, a escola e os educadores apresentam uma tendência para trabalhar com uma formatação a qual estão acostumados. Eis porque as analogias entre o que fazemos tradicionalmente nas salas de aula e o que fazemos na sala de informática ainda predominam. Mas isso está mudando com as novas possibilidades criadas pelas redes sociais no mundo digital.
E nesse cenário, concordo que já não basta ensinar o professor a trabalhar com um software de criação de desenhos como o Paint, ou com editores de textos, de apresentações ou com planilhas eletrônicas. A formação do professor do terceiro milênio deve ser multimidiática também. Eis porque insisto em trabalhar com as ferramentas de interação e colaboração digitais, como blogs e podcast, como ferramentas de formação tanto do estudante quanto do professor.
Uma nova pedagogia está surgindo e somos nos, os educadores atuais, que a estamos construindo, mas não seremos seus beneficiários. Estamos deixando isso como legado.
3 comentários:
Obrigada pelos comentários! Eu também fiz edificações (na época já era CEFET, entre 1981-83) e arquitetura na UFF (84-89). 1989 me mudei pra Belém.
Tá sabendo do encontro de blogueiros paraenses dia 30, 19:30h no Amazon Beer, da Estação da Docas?
mano veio bicudinho mandando um forte abraço que deus te abençoe sempre e guie seus objetivos
Oi Franz
É isso mesmo! E estou esperando o NTE daqui (ou das proximidades) anunciar os cursos de blogs, wikis, podcasts, e outros bons recursos on line... Isto porque para algumas lições ainda preciso (e como!) do presencial. Não fosse este pequeno detalhe, eu me inscreveria para os seus cursos se eles fossem à distância e dirigidos a todos os professores do país.
Um abraço.
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