sexta-feira, 17 de outubro de 2008

INFORMÁTICA & AS BOTAS DE SETE LÉGUAS

Uma ou duas indagações cabulosas, caro leitor, talvez não seja a melhor forma de iniciar este artiguete, mas pensei em fazer-te um desafio. Então, segura: Na sua opinião estamos presenciando uma revolução ou uma reforma no ensino com a chegada dos computadores? A informática promoveu um salto na qualidade da educação brasileira ou um retrocesso no desempenho dos alunos? É possível uma tecnologia educacional progressista ser incorporada a práxis pedagógica de professores conservadores? Enquanto você reflete, sigamos com o texto.

Meu primeiro contato com o computador como ferramenta pedagógica foi em 1990. Soube de um curso que o então Centro de Informática da Educação - CIED, órgão do Departamento de Informática Educativa (DIED/SEDUC) ministraria na Escola Agroindustrial Juscelino Kubitschek-JK, em Benevides. Fiquei curioso e me inscrevi. Segundo me informaram, o laboratório de informática do JK foi o primeiro montado em uma escola pública no Brasil (antes só em universidades). As máquinas eram 486 DLC Ciryx, sistema MS-DOS (e acho que Windows 3.1) em rede Novel. O software trabalhado foi o Logo Writer (em espanhol), que rodava em DOS. Aquilo era para mim algo curioso e interessante mas, confesso meio acabrunhado, naquela época eu não enxergava o potencial pedagógico do computador, mas gostei de comandar a tartaruguinha.

Em 1997 soube que o CIED selecionaria professores para uma especialização em Informática Educativa pela Universidade do Estado do Pará-UEPA, e que estes iriam compor a primeira turma de Multiplicadores do ProInfo. Fiquei curioso e me inscrevi. Bem, a partir dai comecei a considerar a informática como a coisa mais importante no cenário educativo, depois da invenção do livro e do professor. No primeiro momento julguei que os computadores logo promoveriam a ansiada reforma no ensino público, permitindo aos atores do processo (a escola, o aluno e o professor) darem o ansiado salto na qualidade da educação.

E eu tinha uma analogia para os computadores na educação que gostava de pensar: imaginava que essa tecnologia seria algo como a bota de sete léguas, dos contos de Perrault. No conto, o Pequeno Polegar calça as botas de 7 léguas do gigante e elas, por mágica, se ajustam ao seu pé, então ele pode vencer grandes distâncias sem esforço. Eu achava que assim seria quando os professores "calçassem" os computadores. E acho que foi isso que os projetistas palacianos de brasília também pensaram que iria acontecer quando os computadores aterrissassem nas escolas: que os professores dariam gigantescos saltos no seu modus operandi , trazendo a escola do século XVII ou XVIII em que pedagógicamente vivia, para as portas do novo milênio. Com isso os estudantes dariam saltos significativos na qualidade de sua aprendizagem, construiriam conhecimentos com mais facilidade e prazer. Hoje o cenário que vejo me deprime, mas não me desistimula.

Continuo tentando convencer professores a calçarem as botas de 7 léguas do gigante, prometendo que se ajustarão direitinho em seus pés; que com elas podem ir por mares nunca dantes nevegados sem temor. Continuo tentando por asas em seus pés, para que eles possam pô-las nos pés de seus alunos.

Isto posto, espero que você tenha compreendido que o que importa não é responder as indagações feitas, mas se satisfazer com a busca pelas respostas.

13 comentários:

Adinalzir disse...

Caro Franz. Você é genial. Achei excelente o seu texto. Ele traduz muito bem, tudo o que se tentou fazer até agora pela educação através do uso do computador. Infelizmente o problema maior é ainda o próprio professor, um conservador, que não gosta de mudanças e não procura aprender o novo. É por isso que todo o nosso esforço sempre será um trabalho de formiguinhas. Um grande abraço.

Alfabetização em Foco disse...

Que bomque voce não se deixa abater assim tão facilmente. Nunca me conformei em ver minhas filhas estudando em escolas públicas com laboratórios de informática que nunca são utilizados como ferramenta pedagógica. Por isso que com minha turminha de 1ºano,toda semana está em atividade no LIED.

Abraços... lenira... Alfab.em foco

Claudia disse...

No teu texto notei que o que te levou pra esse processo pedagógico (em dois momentos, ao menos) foi a curiosidade. É isso: tem que se promover a curiosidade, o interesse. O resto é ferramenta, como lápis, papel, livro...

Roseli disse...

Caro Franz,

Atualmente, percebemos que um grande número de escolas possuem laboratório de Informática, mas como bem sabemos, a maioria dos professores não fazem o uso devido deste local. No entanto, devemos continuar acreditando que este espaço possa quiçá fazer parte do cotidiano pedagógico do professor. Grande Abraço

Roseli

Nadiege Jardim disse...

Olá, meu amigo! Sou sua fã e sabes disso. Não é a toa que os deuses te colocaram num dia que lembra o nosso compromisso: Dia do professor...Um bj!
Nadiege

Conceição Rosa disse...

Eu não sou o problema maior, eu tento exercitar as soluções. E não gosto, como professora de ver e ouvir as expressões "professor conservador" ou "resistência do professor"! Por que sou muito "pessoalista", não consigo ter um olhar sobre o todo, faço de qualquer teoria, dito ou exemplo uma coisa muito particular.
Tento trabalhar com informática de uma forma regular com meus alunos desde a época em que fiz os primeiros cursos no NTE de Niterói, e sei o quanto isto não tem sido fácil de ser colocado em prática na minha escola.O custo em tempo e planejamento é muito maior, o número de alunos até hoje superava o número de computadores, problemas técnicos sempre aparecem quando o LIED está lotado, o plano B é uma constante, a internet nem sempre funciona, e eu saio do LIED com dor no pescoço e sem voz.
Isto não é sinal de conservadorismo - ou a tão falada resistência - isto chama-se dificuldades da prática, que se forem muitas, a gente acaba por optar por caminhos menos trabalhosos.
Acho que a informática na escola pública será mais produtiva quando não depender da atuação de professores isoladamente, mas for alvo de projeto pensado no coletivo da mesma. Enquanto isso, louvemos todas as inciativas já produzidas, bem como a reflexão sobre o por quê das dificuldades de sua implantação.

esteblogminharua disse...

OI, Conceição EJA. Bom dia! Parabéns por sua atitude pessoal diante do compromisso profissional de educar. Tb. penso assim. Mas quanto a existência de professores conservadores eu não tenho dúvidas. E não digo isso pelo senso comum, mas por ter comprovado em pesquisa em 2003, durante o mestrado. FRANZ

Jenny Horta disse...

Muito bom texto, caro Franz! Ainda temos muita resistência sim! E em todos os níveis. em relação ao EAD, é ridículo! Faço Pedagogia na UNIRIO pelo CEDERJ e sei que até mesmo na universidade existem reistências e preconceito em relação aos cursos. É lamentável! Por isso defendo que o computador faça parte do dia a dia escolar desde a pré escola. Tem gente que me chama de louca..

Márcia Frota disse...

Caro Franz,
Mais um vez vc diz tudo...tb eu em 1998 fiz a especialização em informática pela UFMG para ser uma multiplicadora do NTE. Muitos sonhos e desejos de ver "decolar" esta ferramenta. Como formadora venho tentando difundir entre os professores o potencial da ferramenta. Muito devagaaaarrr...assim com tudo na educãção. Tudo renova, tudo muda...a educação sabe...conhece...pesquisa...mas quem tem que levar para os alunos as devidas mudanças parou no tempo e no espaço. Mas, temos por aí grandes educadores com suas botas de sete léguas, voando...vencendo e muito mais. Poucos...
Vc é um. Parabéns.
Márcia

Fátima Franco disse...

Vc não vai participar do nosso Congresso?Não acredito!!!
Abs

Holanda English and Portuguese disse...

É boa a metáfora que você faz entre a chegada do computador e a magia das botas do conto, agora com relação ao fato de não ter tido o sucesso esperado é deveras compreensível. Não se pode chegar de supetão como se fez com relação ao uso dos computadores na escola e dizer: "Usem o computador e tudo está resolvido". Como diria um colega de faculdade, tudo é um processo e deve ser amadurecido com o tempo. O tradicionalismo ainda tem muitas raízes a ser desprendidas e isso leva um bom tempo. Há ainda outros entraves, que promove o desinteresse dos colegas em trabalhar com a informática, ou seja, o despreparo. É isso.

Holanda English and Portuguese disse...

É boa a metáfora que você faz entre a chegada do computador e a magia das botas do conto,e com relação ao fato de não ter tido o sucesso esperado é deveras compreensível. Não se pode chegar de supetão como se fez com relação ao uso dos computadores na escola e dizer: "Usem o computador e tudo está resolvido". Como diria um colega de faculdade, tudo é um processo e deve ser amadurecido com o tempo. O tradicionalismo ainda tem muitas raízes a ser desprendidas e isso leva um bom tempo. Há ainda outros entraves, que promove o desinteresse dos colegas em trabalhar com a informática, ou seja, grande parte deles não tem preparo nem formação para trabalhar com tal ferramenta. É isso.

esteblogminharua disse...

Olá, Emily! Fico muito contente que essa postagem antiga desperte ainda interesse. Sim, visitei seu site e achei muito interessante tantos cursos. Sucesso!
Franz

No TOP BLOG 2011 ficamos entre os 100 melhores da categoria. Pode ser pouco para uns, mas para mim é motivo de orgulho e satisfação.
Sou muito grato a todos que passaram por essa rua que é meu blog e deram seu voto. Cord ad Cord Loquir Tum

Powered By Blogger
Petição por uma Internet Democrática