Eu sempre gostei de ler. Quando menino e adolescente, achava que lendo também estava estudando, ou que só estava estudando se estivesse lendo. Então veio o Ziraldo e disse que "Ler é mais importante do que estudar" (já fiz uma postagem aqui mesmo sobre isso - clique AQUI para ler). Com essa frase ele substituiu o ato obrigatório de estudar pelo prazeroso ato de ler, e libertou a gurizada.
Depois veio Paulo Freire me dizer que ler não é apenas juntar signos linquísticos, mas ter uma apreensão maior da realidade. E aprendo que "A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente" (Paulo Freire).
Então, há diversas linguagens e códigos no mundo, e NÃO EXISTE quem não saiba "ler" pelo menos uma delas. O índio analfabeto sabe ler os sinais da floresta; o pescador analfabeto sabe ler o horizonte; a cigana analfabeta sabe ler a mão do doutor. Descubro que ANALFABETO nada tem a ver com a leitura de que fala Paulo Freire. Analfabeto é, APENAS, uma expressão criada pela sociedade letrada para identificar o indivíduo que ainda não desenvolveu a habilidade de interpretar o significado dos caracteres que compõem um texto impresso.
É por isso que gosto tanto da canção Beradêro, do Chico César. Ela fala da leitura desse mundo não acadêmico. Quem está acostumado com a literatura nordestina de cordel, logo reconhece o estilo. A letra toda é um belo trabalho de rima e metáforas em redondilha de sete pés. Tem cheiro de chão, pó, poeira. Cheiro de nordestino, gente lutadeira. Gente que quase só tem de consolo os sonhos; que sai da miséria no Nordeste e “o olhar vê tons tão sudestes”, nessas léguas tiranas da vida.
Ah, se eu fosse professor de literatura! Empregaria essa poesia num trabalho de leitura com meus alunos.
* Foto do autor, tirada durante show no dia 09/10 em Belém
3 comentários:
maravilha!! Com certeza Chico Cesar - como tantos Chicos-geniais que temos- sabe que a cigana leu vida longa na mão de Paulo Freire...vida longa de seu legado, pois o homem nada é, senão pelo que deixa de bom para o outro. Valeu amigo Franz!!
Meu amigo Franz,
Cada dia está melhor em suas reflexões e sabes que as aprecio muito, demonstram a sensibilidade de um "eterno" educador, que acredita e gosta do que faz. (re)descobri Paulo Freire durante o mestrado e assim como ele sei que não nascemos professores numa terça-feira a tarde, nos fazemos professora na sociedade a qual fazemos parte.Enfim, não nascemos professores ou marcados para sê-lo. Sigo acreditando não neste sistema falido, mas que eu e outros que compartilham da busca por uma educação de qualidade possamos começar a plantar uma semente de mudança nas concepções de nossos alunos acerca da vida. Ainda seguimos esperançosos que esta semente venha a germinar e produzir bons frutos...Que Deus o Abençoe hj, amanhã e sempre...
Eu sou professora de Literatura e só não levarei o texto para os meus alunos, pois as aulas terminaram, infelizmente!
Postar um comentário